Os dados da balança comercial de bens
industriais no primeiro trimestre do ano mostram algo novo e muito relevante em
termos das transformações que vêm ocorrendo no comércio exterior brasileiro. É
recente a passagem de superávit para déficit nesse comércio. Até o primeiro
trimestre de 2007, o saldo era positivo. A crise de 2008/2009 precipitou e
aprofundou a transição para déficits muito altos, o que vem tendo sequência até
os dias atuais. Uma mudança está em curso neste processo: se entre 2010 e 2012
os maiores déficits resultaram de uma “invasão” de importações (as quais
cresceram muito mais do que as exportações, que também evoluíam a taxas
significativas), em 2013 o fator indutor foi, principalmente, a retração das
exportações.
De fato, a se julgar pelo primeiro trimestre, as importações de bens industriais pouco aumentaram, ou devido a um esmorecimento da “invasão” de importados ou porque a economia doméstica estagnou, de forma que o maior déficit resultou da queda bem significativa das exportações. Se olharmos em perspectiva, há um movimento em curso que reflete em termos amplos a crise de competitividade da indústria. Esta se apresentou nos últimos anos, em primeiro lugar, como perda de mercado interno para o produto importado, mas agora se revela como perda ampla de mercados de exportação. Custos, câmbio, produtividade, política industrial, acordos comerciais são temas que não podem ser deixados de lado para que o percurso acima descrito possa ser estancado. Tendo prosseguimento, o processo agravará o progresso do déficit em transações correntes brasileiro que, por enquanto, é financiável.
No trimestre inicial de 2013, o Brasil exportou US$ 31,6 bilhões em produtos típicos da indústria de transformação menos 5% do que vendeu em igual período de 2012, US$ 33,3 bilhões. Bens industriais de alta e média alta tecnologia experimentaram declínio das vendas externas de nada menos do que 11,8%. Tal recuo concorreu para o déficit recorde destes bens, de US$ 16,3 bilhões (no ano passado, déficit de US$ 13,3 bilhões).
Quanto ao comércio pela classificação por intensidade tecnológica, valem algumas observações:
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O déficit em bens dos ramos de alta intensidade tecnológica chegou a US$
7,8 bilhões em janeiro-março de 2013, com exportações de US$ 1,8 bilhão, aquém
de igual período de 2012. Após o ápice do início de 2008, suas exportações têm
caído quase ininterruptamente. As importações atingiram US$ 9,6 bilhões,
recorde para o período. Os fármacos, com exportações menores, tiveram déficit
recorde. Aparelhos de áudio, vídeo, telecomunicações, bem como aparelhos
médicos e de precisão também registraram déficits bilionários e sem igual.
Desde 2007, exportam-se cada vez menos telequipamentos e bens de áudio e vídeo:
após ápice no início de 2006 (US$ 848 milhões), foram vendidos apenas US$ 191
milhões em 2013. Bens de informática também tiveram déficit bilionário. O
déficit, de US$ 311 milhões, em aeronaves e afins foi o maior da série, com
queda nas exportações destes itens.
·
As exportações de produtos de média-baixa intensidade declinaram de US$
9,8 bilhões no trimestre inicial de 2012 para US$ 8,6 bilhões em igual período
de 2013. Com o recorde de importação, o déficit destes bens alcançou US$ 14,1
bilhões, o pior saldo dentre as quatro faixas de intensidade tecnológica e o
pior de sua série. Os déficits de automóveis; de máquinas mecânicas;
equipamentos elétricos; e de produtos químicos (exceto farmacêuticos) atingiram
níveis sem iguais, com o agravante da queda nas exportações. As vendas externas
de automóveis e afins recuaram para US$ 3,2 bilhões. Os químicos registraram o
maior déficit entre todos os grupos de bens da indústria de transformação em
2012, déficit de US$ 5,5 bilhões.
·
Já as exportações de mercadorias típicas de ramos de média-baixa
intensidade tecnológica, retrocederam em US$ 1,0 bilhão, ficando em US$ 7,9
bilhões no início de 2013. Assim, pelo quarto ano seguido, presenciaram
déficit, de US$ 2,9 bilhões. Foram os quatro únicos anos de déficit em toda a
série para janeiro-março, com início em 1989. O superávit dos produtos
metálicos, menor do que em janeiro-março de 2012, não tem mais contrabalançado
o déficit em produtos derivados do petróleo refinado, álcool e afins. Como
agravante, as exportações de produtos metálicos declinaram de US$ 5,8 bilhões
para US$ 5,1 bilhões, enquanto as de derivados de petróleo e afins, de US$ 1,5
bilhão para apenas US$ 846 milhões. O ramo naval logrou o único superávit da
faixa, exportando US$ 817 milhões.
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Os bens típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica obtiveram
o único superávit no começo de 2013: de US$ 8,5 bilhões, nível recorde. O
Brasil exportou US$ 13,4 bilhões destes bens. Destas exportações, só alimentos
industrializados, bebidas e fumo responderam por US$ 8,0 bilhões. Outro grupo,
de produtos madeireiros, celulose e papel, logrou superávit de US$ 1,5 bilhão,
com exportações de US$ 2,1 bilhões, montante praticamente igual ao de
janeiro-março de 2012. Mas o resultado dos bens intensivos em trabalho –
têxteis, artigos de vestuário, calçados, couro, além de produtos diversos –
continuam se deteriorando, com déficits cada vez maiores. As exportações de
têxteis, artigos de vestuário, calçados e couro ficaram ligeiramente acima do
registrado no mesmo trimestre de 2012, US$ 1,1 bilhão.
Fonte: IEDI
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