ATIVIDADE EXTRA - ECONOMIA INTERNACIONAL
Prof Wellington Pereira
Entrega em 03/06
Comércio Exterior
16/1/2012 - 12h22
Reforço da inserção primário-exportadora é a
resposta do Brasil à crise financeira
Começa um debate ideológico subliminar sobre
os rumos da economia brasileira face à crise externa. O cerne deste debate, de
que nos dá conta uma recente entrevista (jornal O Estado de S. Paulo, 8/1/2012,
pag. B4) do diretor do Instituto Casa das Garças, Edmar Bacha, é a economia dos
recursos naturais. Em primeiro lugar, vamos contextualizar, para discernir com
maior clareza o que está em jogo.
Pela especialização externa a que se dedicou
na última década, a economia brasileira disputa uma fatia crescente de uma
renda extraordinária que se poderia obter com exploração de recursos naturais -
terras, jazidas, reservas de água doce e campos petroleiros. As dotações (não
produzidas) desses recursos naturais passaram a significar uma fonte importante
de rendimento econômico aos seus proprietários - a clássica renda fundiária,
que virou novo/velho filão da acumulação de capital, não apenas no setor
primário da economia, mas também no conjunto do sistema econômico.
O fenômeno visível e revelador dessa renda em
ascensão é o forte movimento de alta dos preços das terras rurais, jazidas
minerais, campos de petróleo e bem assim, por outras vias, a opção por
investimentos hidroelétricos. Os preços desses ativos (recursos naturais) são
puxados pelo boom das commodities agrícolas e minerais internacionais dos
últimos doze anos, como também pela política financeira e fundiária do Estado
brasileiro.
Segundo uma visão econômica clássica do
comércio internacional (David Ricardo, 1817), essa renda fundiária
extraordinária refletiria uma "vantagem comparativa natural" que o
Brasil obteria em suas relações com as economias industriais maduras, e também
em relação às economias de países superpopulosos (China, Índia e Japão),
relativamente aos estoques de recursos naturais para abastecer seu crescimento
econômico.
Esse filão de vantagens comparativas naturais,
que na teoria clássica está umbilicalmente ligado à disputa pela renda
fundiária, seria para alguns economistas a pedra angular da nova inserção
brasileira na divisão internacional do trabalho. Os mais exagerados adeptos das
"vantagens comparativas" já nos veem como sócios proprietários de um
novo mundo que se gesta com centro econômico na Ásia. Os mais prudentes assinalam
que há outras coisas a fazer, além da especialização primária.
Por outro lado, como essa especialização
primária no comércio internacional se dá com paralela e evidente perda de
participação da maioria dos ramos manufatureiros, e como em geral a economia
dos serviços pouco exporta, recai todo o peso do ajuste das transações externas
sobre o setor primário.
É aqui que está o nó da questão. A suposta
pedra angular revela-se uma pedra de tropeço. Isto porque a especialização
primária no formato em que está se estruturando impele o sistema de acumulação
de capital a uma voraz superexploração de recursos naturais e/ou
internacionalização de direitos de propriedade, como via necessária de
ajustamento aos déficits crescentes - primeiro nas transações mercantis
externas (conta-corrente) e depois no próprio movimento de capitais.
Em linguagem mais simples e direta:
superexploração de recursos naturais significa perda irreversível de recursos
de patrimônios intergeracionais naturais, que, sob o nome genérico de terra,
significam biodiversidade, solos, florestas nativas, rios, patrimônios
genéticos, aquíferos, saúde ambiental, etc., todos convertidos em commodities
produzidas a custos sociais elevadíssimos e socializados, enquanto os
benefícios econômicos ficam restritos aos proprietários da riqueza.
Finalmente, o ajuste à crise financeira
externa pelo aprofundamento da inserção primário-exportadora e pela maior
internacionalização dos ativos do setor primário, incluindo o pré-sal, tese em
circulação em certos círculos ultraconservadores, converter-se-ia em médio
prazo em uma gigantesca dilapidação de recursos não renováveis. Agravaria
também a concentração fundiária, sem criar perspectiva séria de desenvolvimento
para o país. É hora de pensar o Brasil a sério!
* Guilherme Costa Delgado é doutor em economia
pela Unicamp e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.
1.
Quais os argumentos que o autor do artigo se
utiliza para não concordar com a Teoria das Vantagens Comparativas no caso do
Brasil?
2.
Tudo estaria perdido com a especialização em
recursos naturais?
3.
Até agora, com base no que foi estudado, qual
sua visão sobre esse debate?
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